Há certas imagens que pela existência de
elementos imperfeitos em sua composição atuam sobre nossa visão como uma
espécie de "zoom", puxando o nosso olhar para o centro daquilo que está fora de
ordem e lugar. Em geral são painéis em que as formas geométricas são utilizadas
e colocadas sem guardar a devida simetria entre as peças e que um só elemento
mal assentado causa este desconforto, um transtorno mesmo, ao mais simples e
discreto olhar. Vi recentemente umas imagens que nos levam a esta sensação de
erro, não apenas observados nestes painéis geométricos, mas também na
disposição de peças em prateleiras ou estantes que começam obedecendo a um critério
e de repente esta ordem é quebrada com a inserção de uma peça de forma ou cor
diferente daquelas que vinham sendo dispostas inicialmente.
Lembrei-me de um nosso apartamento no Recanto dos Pássaros, no Cabula, que recebemos carente de
algumas reformas e ajustes como a colocação de azulejos na cozinha e piso no
banheiro. Alguém nos indicou “Seo Nenzinho”
como um pedreiro qualificado para estas tarefas e, que em nosso primeiro
contato foi apresentando o seu currículo, de modo desnecessário, como o autor
da colocação dos azulejos na parte frontal do prédio da antiga Rodoviária de Salvador, nas imediações
das Sete Portas. “Seo Nenzinho” devia ter guardado sua
obra e autoria para clientes mais exigentes, que evidente não era o nosso caso,
mas como tínhamos urgência no serviço
fomos de “Seo Nenzinho” mesmo. As
primeiras pedras de azulejos assentadas na cozinha mostravam a simplicidade do
serviço, já que os detalhes das peças
eram discretos e de fácil percepção em caso de erro ou má colocação dos
azulejos, ainda que “Seo Nenzinho”
tivesse como hábito puxar para os olhos, os óculos que lhe escorriam pelo nariz
abaixo.
Trabalho dado como concluído e pago, nos despertou não muito tempo depois, que duas pedras estavam postas de ponta cabeça quebrando a harmonia da colocação das peças, mas que em hipótese alguma nos submeteríamos a quebrar a parede a fim de por ordem no deslize dos óculos de “Seo Nenzinho”. Sempre que passo em frente à antiga Rodoviária de Salvador procuro no imenso painel de azulejos azul e branco em desenhos geométricos, a colocação de uma pedra mal colocada, e que não encontro pela rapidez do tempo em que fico a fitar; mas que deve haver, isto há.
Fotos: Ilustrativas
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