sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Alguma coisa está fora de ordem.

Há certas imagens que pela existência de elementos imperfeitos em sua composição atuam sobre nossa visão como uma espécie de "zoom", puxando o nosso olhar para o centro daquilo que está fora de ordem e lugar. Em geral são painéis em que as formas geométricas são utilizadas e colocadas sem guardar a devida simetria entre as peças e que um só elemento mal assentado causa este desconforto, um transtorno mesmo, ao mais simples e discreto olhar. Vi recentemente umas imagens que nos levam a esta sensação de erro, não apenas observados nestes painéis geométricos, mas também na disposição de peças em prateleiras ou estantes que começam obedecendo a um critério e de repente esta ordem é quebrada com a inserção de uma peça de forma ou cor diferente daquelas que vinham sendo dispostas inicialmente.
Lembrei-me de um nosso apartamento no Recanto dos Pássaros, no Cabula, que recebemos carente de algumas reformas e ajustes como a colocação de azulejos na cozinha e piso no banheiro. Alguém nos indicou “Seo Nenzinho” como um pedreiro qualificado para estas tarefas e, que em nosso primeiro contato foi apresentando o seu currículo, de modo desnecessário, como o autor da colocação dos azulejos na parte frontal do prédio da antiga Rodoviária de Salvador, nas imediações das Sete Portas. “Seo Nenzinho” devia ter guardado sua obra e autoria para clientes mais exigentes, que evidente não era o nosso caso, mas como tínhamos  urgência no serviço fomos de “Seo Nenzinho” mesmo. As primeiras pedras de azulejos assentadas na cozinha mostravam a simplicidade do serviço,  já que os detalhes das peças eram discretos e de fácil percepção em caso de erro ou má colocação dos azulejos, ainda que “Seo Nenzinho” tivesse como hábito puxar para os olhos, os óculos que lhe escorriam pelo nariz abaixo.

Trabalho dado como concluído e pago, nos despertou não muito tempo depois, que duas pedras estavam postas de ponta cabeça quebrando a harmonia da colocação das peças, mas que em hipótese alguma nos submeteríamos a quebrar a parede a fim de por ordem no deslize dos óculos de “Seo Nenzinho”. Sempre que passo em frente à antiga Rodoviária de Salvador procuro no imenso painel de azulejos azul e branco em desenhos geométricos, a colocação de uma pedra mal colocada, e que não encontro pela rapidez do tempo em que fico a fitar; mas que deve haver, isto há.  

Fotos: Ilustrativas

Nenhum comentário:

Postar um comentário