Minha iniciação no Cinema Nacional se deu aqui na tela do Cine Vogue (hoje Teatro Carlos Sampaio) através das chanchadas da Atlântida e das estripulias de seus ídolos como Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade, Costinha, Cyl Farney, Anilza Leone, Eliana. Além, é claro, do cinema de Hollywood, através da matança dos índios pelo cowboy americano John Wayne para quem a conquista do oeste tinha que ser feita no “tapa”, na “tora”.
O dito
cinema “sério” nacional só vim conhecer longe daqui, com as produções do “cinema
novo”, inspirado na cinematografia italiana e francesa, em que os filmes de Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Ruy
Guerra, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade traziam para tela as nossas
mazelas sociais. Eram filmes que tinham como foco a proletarização das favelas
e do sertão nordestino, com suas crendices e a sua cultura popular. Além de
dramas de conteúdos psicológicos, densos, “cabeça” e em alguns casos,
terrivelmente, chatos. Nos momentos daquela “masturbação intelectual” imaginava
a aparição de Zé Trindade, soltando
os bichos: “Mulheres, cheguei!”. O Zé
não entrava em cena já as mulheres, estas sim e em profusão; generosas, exuberantes,
belas e nuas.
Estas lembranças ocorrem após o desaparecimento,
ontem, da atriz Norma Benguell, uma
representante inconteste do cinema nacional, ousada e intensa, capaz de
produzir o primeiro nu frontal, nos anos 60, em cena do filme Os Cafajestes, do Ruy Guerra.
Mas ela foi mais que isso, uma atriz brilhante de uma
beleza agreste que rivalizava a sua luminosidade com a também bela Odete Lara, outra referência do cinema
novo. A história de nosso cinema perde mais uma de suas peças de resistência, mais
uma página que se vai, apequenado que está por comediazinhas globais,
protagonizadas por seus artistas, na maioria dos casos tão expressivos como um
saco de pipoca vazio. “E la nave va”...
Foto: Norma Benguell
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