domingo, 27 de outubro de 2013

Andar, por andar, andei...


Em seu disco, Marítimo gravado em 1998, Adriana Calcanhoto incluiu uma canção de Caymmi, a eterna e bela Quem vem prá beira do mar. Nenhuma novidade na escolha já que o universo de Caymmi está sempre sendo visitado pelos mais variados interpretes com resultados, às vezes, surpreendente. 

A surpresa proporcionada por Adriana está no dueto com o mestre baiano, que não existiu, mas possível graças a recursos cada vez mais presente e disponível da tecnologia. Resultado também conseguido por Clara Nunes em um álbum seu, pós-morte, em que ela faz duetos com vários artistas a exemplo de Paulinho da Viola, Chico Buarque, Nana Caymmi, João Bosco, Ângela Maria etc.

No caso da Calcanhoto, o mestre Dorival ainda estava entre nós, mas por questão de agenda, saúde, outros compromissos não foi viabilizada a sua presença em estúdio para a gravação do dueto com a cantora e compositora gaúcha. Nem assim o encontro deixou de ser realizado e registrado como um dos momentos mais bonitos e emocionantes da carreira, em especial de Adriana. Tudo funcionou de modo perfeito que talvez não fosse obtido com a presença física de ambos na gravação. Por cima da base já gravada de um disco de Caymmi, a canção Quem vem prá beira do mar, teve adicionada a voz de Calcanhoto onde as frases, a respiração, o tempo musical tudo se encaixa com uma clareza e uma evidência de um dueto que levaria dias de ensaios para aquele resultado final. 

Não há nada de frieza tecnológica, da máquina substituindo o homem, ao contrário, a engenharia sonora a serviço do homem, da arte, da beleza, como também não há no disco da Clara a existência de algo que não se materializou em vida, mas agora conseguida em planos diferentes de existências.

Foto: Adriana Calcanhoto

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