Quando em 2006 o jornalista baiano Paulo César de Araujo teve o seu livro Roberto Carlos em detalhes proibido por uma ação movida pelo Rei contra o seu biógrafo, não autorizado, ele não chorou sozinho na audiência que determinou a interdição definitiva da obra. O mundo intelectual e o meio artístico saíram em defesa do jornalista, acusando o Rei de censor, arbitrário e algoz da liberdade de expressão. Pouco tempo depois, muitos desses que se posicionaram contrários à atitude censória do Rei voltam agora a cerrar fileiras com ele contra as biografias não autorizadas de suas vidas como Caetano, Gil, Chico, Djavan, Erasmo, Milton Nascimento. Quem diria! Os censurados de ontem são os censores de hoje.
Na época de sua desastrada investida contra o
trabalho do jornalista Paulo César de
Araujo, o Rei alegava invasão de
privacidade e a não permissão para que nada ou ninguém se imiscuísse em
detalhes de sua vida que só lhe dizia respeito. Seria mesmo? Não é ele como os
seus colegas censores de agora pessoas públicas pelas quais suas vidas,
independentes de suas vontades, são expostas por uma opção artística de se
tornarem quem são? Talvez, o Rei
ache que manter longe das biografias, autorizadas ou não, o episódio como o que
lhe amputou parte da perna direita em um acidente ferroviário quando era ainda
criança em Cachoeiro do Itapemirim-ES
deixe a sua carreira mais ou menos nobre. “Eu sei que esses detalhes/vão sumir
na longa estrada/do tempo que transforma/todo amor em quase nada”
O biógrafo é um jornalista que abdica grande
parte de sua vida e de sua carreira para sair a campo pesquisando, recolhendo
material sobre o biografado, fazendo entrevistas, viajando para o exterior em
busca de fontes e subsídios para o seu livro, em trabalhos que podem durar anos
como demonstra o nosso mais famoso biógrafo, Ruy Castro, cuja seriedade e caráter estão bem acima de alguma
dessas estrelas que hoje se revelam policiais censores. Não é um oportunista em
busca de dinheiro fácil, como acusam seus detratores, mas um repórter de seu tempo, deixando para as
novas gerações a vida de quem fez a nossa história política e cultural, através
de trabalhos bem documentados e em determinados momentos revelando facetas de certas
biografados que gostariam de mantê-las sob os tapetes de seus apartamentos na Zona Sul do Rio. C’est la vie!
“É
proibido proibir” é o que Caetano
cantava em 68, se apropriando de uma frase pichada nos muros de Paris e que
servia como bandeira para qualquer jovem como ele, como nós, que clamávamos por
liberdade. “Nada como o tempo para passar”.
Foto (antiga): Caetano
Foto (antiga): Caetano
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