terça-feira, 15 de outubro de 2013

Quando o canto é reza!


Em recente entrevista à Revista MUITO, encartada nas edições de A Tarde, aos domingos, o sambista Roque Ferreira demonstrou o descompasso entre a sua criação musical e a sua visão antiga e conservadora do samba. Para o grande compositor que ele é, suas ideias a respeito do nosso ritmo mais popular parece algo aprisionado na remota história de Tia Ciata, Donga, João da Baiana e assim deveria permanecer através dos tempos. Algo improvável já que o samba como qualquer ritmo vai com o passar dos anos adquirindo nuances evolutivas como aquelas que nos levou a João Gilberto, dando a nossa música uma dimensão internacional.

Perguntado sobre o que achou do disco de Roberta Sá, o premiado e aclamado pela crítica, Quando o canto reza, gravado em 2011 e com repertório baseado em sua excelente obra, ele disse que não gostou e aquilo que ela tinha feita não era samba. De fato não era, era muito mais que isto a que suas músicas, de qualidade indiscutível, serviram como base e bússola para a sonoridade conseguida pelo Trio Madeira Brasil. Formado por virtuoses como Marcelo Gonçalves – violão de sete cordas, José Paulo Becker – violão e Ronaldo do Bandolim – o próprio, para emoldurar a bela voz de Roberta e os sambas de Roque Ferreira, um dos melhores do ano de 2011.

A noção de samba para Roque Ferreira talvez ainda continue atrelada a batuques tribais, que devem estar imune a modernidade do canto, dos arranjos, dos instrumentistas, do seu próprio tempo. Uma pena que ele, como grande criador, não tenha vista ou sentido beleza onde ela rodopia e encanta na voz de Roberta e nos instrumentistas do Trio Madeira Brasil.  

Foto: Roberta Sá e Trio Madeira Brasil

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