quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Convoque seu Buda


Conheço pouco do “rap” como expressão musical, a não ser sua origem americana e sua semelhança com os nossos cordelistas, cantadores de feira e emboladas, sabendo quão depreciativo possa ser aos “rappers” nativos a comparação, para quem a cultura dos EEUU lhes diz mais respeito, com quem tem mais “a ver”, até porque aqueles nossos artistas estão longe demais das capitais. É, pode ser. Evidentemente, já ouvi falar de Mano Brown, MV Bill, Sabotage, Emicida e em especial do Criolo que já despertou a admiração de pessoas que admiro como Chico, Caetano, Milton e Tom Zé.

Então, nesta segunda feira, 03.11.14, Criolo pôs na praça o seu segundo disco nos formatos, CD, vinil e digital, o que confere ao artista um cuidado e uma destinção própria às estrelas, em um trabalho sob o patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e Petrobrás e com lançamento simultâneo no Brasil, Europa e Estados Unidos.

Ouvi o disco em um vídeo na Youtube e ainda sem uma ideia formada sobre o conjunto, confesso ter causado boa impressão o versejar de Criolo e a sua capacidade em criar bons refrões, quase mantras. Faz parte deste universo a violência da cidade, da periferia, as drogas, a polícia, protestos, manifestações, toda a limitação de vidas sofridas, em contraste “com o céu na boca do inferno esperando você” como cita em Convoque seu Buda. Mas, ao contrário do que sempre me pareceu o “rap” que até então ouvi, Criolo vai além daquela ladainha interminável e monocórdica, com intervenções no regaee, samba e outros ritmos como lambadas e salsas. 

Arranjos com boas guitarras, bases eletrônicas, metais cobrindo versos irônicos como em Cartão de visita (“O governo estimula, e o consumo acontece/Mamãe de todo mal, a ignorância só cresce/FGV me ajude nessa prece/O salário mínimo com base no Dieese”). Versos que revelam um cara muito bem informado e crítico, que deverá passar algum tempo em meu MP3, enquanto capto as suas mensagens e seus toques sociais para novas observações. O rap já não será mais o mesmo que ouço ao passar pela Rua da Mistura, a cada dia, e que explode das residencias, dos passeios, em volumes perturbadores onde os jovens fazem suas assembleias de vidas sem audição.

Foto: Criolo

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