Distraidamente pego o controle remoto da
televisão e fico de modo aleatório buscando o que vê, o que me desperte atenção
e, paro naqueles canais rurais, dedicado ao agronegócio, a pecuária, leilões e
vendas de animais. Fico vendo aquelas vacas, bois, bezerros indo e vindo, vindo
e indo frente ao vídeo e fico a me perguntar para onde irão ou foram e como
estarão ao fim do dia após tantas idas e vindas.
Exaustas, as vacas, devem no
final da tarde ansiar por uma ducha, um cocho coberto de feno ou ração e um
mourão onde possa encostar seu corpanzil e dormir. Deve ser assim a vida
daquelas vacas televisivas, que talvez não defira muito das demais, daquelas
velhas vacas conhecidas, ávidas por um escândalo, insumos das revistas de
fofocas, ao contrário da pachorrice e do recato bovino.
Este ir e vir das vacas me fez lembrar um show
do Jô Soares, no Teatro Castro Alves, lá pelos anos 70,
em que ele conta como era fazer propaganda de aguardente nos primórdios da
televisão, antes, bem antes da existência do videoteipe, onde tudo era ao vivo,
não havia gravação. Ao iniciar a programação, a cada manhã, começava também os
comerciais da cachaça com apresentador sóbrio, elegante, bem vestido e sorvendo
com simpatia o primeiro trago.
Na medida em que a programação ia invadindo a
tarde, lá pelo inicio da noite e após tantos goles, ao vivo, o apresentador já
estava prá lá de Marrakesh.
Descomposto, dando murros na mesa para ressaltar as qualidades da pinga que ele
anunciava, cuspindo no chão, palito no canto da boca, chutando a cadeira do
cenário, puxando a toalha da mesa, uma zona generalizada o que provocava urros
de riso na plateia. Não sei qual a semelhança nas situações, já que as vacas da
televisão sempre me parecem tristes, carentes de um trago reanimador, mas nem
tanto.
Foto: Ilustrativas
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