quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Dora, rainha cafuza de um maracatu

Dia desses, em casa, peguei na estante o livro Verdade Tropical de Caetano e abri de modo aleatório em qualquer uma das suas mais de 500 páginas. Naquele instante Caetano falava da concepção e término de seu primeiro disco tropicalista depois do impacto e escândalo de sua participação no III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1967, em que ficou classificado em 3° lugar com Alegria, alegria.

O repertório pronto e já gravado com músicas como Tropicália, Superbacana, Soy loco por ti América, Eles, Paisagem útil entre outras, mas Caetano queria incluir uma canção de Caymmi no disco e, a escolhida seria Dora, aquela rainha do frevo e do maracatu. Então fez contato com Dori Caymmi pois ele devia ser arranjador da canção. Foram ao estúdio para gravação e durante dois dias de tentativas o Dori confessou não estar encontrando o tom apropriado, a linha melódica ideal, parecia não ser capaz de tocar a tarefa de conceber o arranjo e desistiu. 

Caetano percebeu ali uma indisposição, como quem tem má vontade no projeto, em que o filho de Caymmi deve ter se perguntado o que é que a canção de meu pai tem a ver com aquele repertório. É possível, mas no disco vanguardista de Caetano havia canções tão líricas e igualmente belas como Dora, bastava ver e ouvir a linda Clarice, com letra de Capinam, ou Onde andarás, em que Caetano musicou um poema do Ferreira Gullar ou No dia em que eu vim-me embora uma mansa e triste canção de despedida.

Li Verdade tropical na época de seu lançamento, mas não lembrava o fato que já indicava uma ruptura entre a MPB tradicionalista e herdeira da bossa-nova e os tropicalistas que abririam caminhos para novos horizontes na música brasileira. O resto é história!

Foto: Disco de Caetano (1967)

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