terça-feira, 3 de setembro de 2013

A "mea culpa" global.


Ontem, ao final do Jornal Nacional que vejo após o Jornal da Band, para constatar as divergências de enfoque, o apresentador William Bonner leu trecho de uma reportagem de um novo site da empresa onde está registrada a memória da emissora e a Globo faz uma espécie de “mea culpa” pelo apoio, nem tanto incondicional, ao Golpe Militar de 64. A incondicionalidade ficaria por conta de um acordo da Globo com a empresa americana Time-Life, ilegal e inconstitucional, mas permitido pelo governo militar para ter como contrapartida o apoio, ou pelo menos o silêncio, da TV Globo, para com as atrocidades constitucionais e humanas praticadas pelos generais que se apropriaram do poder em 01 de abril de 1964. A Globo foi por muito tempo servil aos militares, como ainda hoje é ao grande capital.

A pose de Madalena arrependida pelo apoio a ditadura é pouco, mas é um começo, cujo começo mesmo tem origem nas manifestações de junho e que continuaram nos meses seguintes em que a TV Globo é um dos alvos preferenciais dos protestos contra o monopólio da informação e pela democratização da mídia. A “mea culpa” global arrasta os seus iguais ao afirmar que não estava sozinha no apoio de primeira hora ao golpe militar, claro que não, é sabido que a Folha cedia os seus veículos para transporte de presos políticos para as sessões de torturas no DOI-CODI e na OBAN (a famigerada e ensanguentada Operação Bandeirantes). Este foi apenas um apoio logístico, mas existe a suspeita de lastro financeiro da mídia golpista da época para a manutenção do regime e dos seus braços torturadores e de perseguição aos opositores ao regime ditatorial, que a Comissão da Verdade, por certo, tentará desvendar esta teia do mal, mantida pelas empresas de comunicação.

A confissão da Globo é um ato inaugural, pois é sabido que o seu contencioso na manipulação da verdade e do escamoteamento dela remonta a muito mais, como à campanha das Diretas Já; da montagem e edição do último debate entre Collor e Lula, exibido no Jornal Hoje e Jornal Nacional no dia anterior à eleição, em que o “caçador de marajá”, covardemente, trouxe a público uma possível pressão de Lula a sua companheira para a prática do aborto daquela que é a sua primeira filha. Do apoio ao presidente alagoano até o último momento da votação de seu “impeachment”. 

Enfim, os pecados globais merecem bem mais que um Ato Penitencial em que “confesse a Deus todo poderoso e a vós irmãos e irmãs, que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa”.

Foto: Ilustrativa

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