quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O ócio baiano.

Uma frase imprópria para o local da celebração, um gesto quase infantil de quem quer fazer graça, mas carece de um senso de humor mais sutil, o vocalista Rogério Flausino da boa banda mineira Jota Quest disse, em Salvador, no inicio do mês, durante um show pelo Circuito Banco do Brasil: “Aqui em Salvador o povo já não trabalha. Amanhã, domingão, nem fudendo né?” A reação do público, jovem em sua maioria, foi a esperada. Um vaia que até hoje deve estar doendo em seus ouvidos de aprendiz de gozador.

Mas, quanto à preguiça, longe de nos incomodar, pois faz parte de nosso jeito de ser, é um traço cultural de nossa identidade festeira e alegre, confundida com o ócio, como negação ao trabalho, e que remonta a nossa colonização e já absorvida em termos antropológicos pelos nativos e pelos que aqui chegam para trabalhar e acabam cooptados. Somos um povo diferenciado. Não diria preguiçoso, mas malemolente, dengoso assim como Caymmi, nosso “buda nagô”, para quem se o mar pegasse fogo, pacientemente, esperaria o peixe frito na praia. Não há demérito na afirmação do mineiro, apenas o nosso ritmo é outro, como comprova o arrastão provocado pela passagem do trio elétrico. 

Em nenhum estado brasileiro poderia ter surgido “coisa” como a “axé music” ou o detestável “pagode baiano”. Porem, nada disso faz com que o trabalho, a produção e a ocupação profissional sejam instrumentos que se justificam somente pela festa, pela farra, pela gandaia como aquela que levou uma multidão a desembolsar R$160,00 para ouvir, mais do que devia do Jota Quest, e feras como Joss Stone, Skank, Monobloco, Preta Gil, Carlinhos Brown. Aliás, bateu uma dúvida sobre esta afirmação.

Foto: Jota Quest

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