Uma frase imprópria para o local da celebração,
um gesto quase infantil de quem quer fazer graça, mas carece de um senso de
humor mais sutil, o vocalista Rogério
Flausino da boa banda mineira Jota Quest
disse, em Salvador, no inicio do
mês, durante um show pelo Circuito Banco
do Brasil: “Aqui em Salvador o povo já não trabalha. Amanhã, domingão, nem
fudendo né?” A reação do público, jovem em sua maioria, foi a esperada. Um vaia
que até hoje deve estar doendo em seus ouvidos de aprendiz de gozador.
Mas, quanto à preguiça, longe de nos incomodar,
pois faz parte de nosso jeito de ser, é um traço cultural de nossa identidade
festeira e alegre, confundida com o ócio, como negação ao trabalho, e que
remonta a nossa colonização e já absorvida em termos antropológicos pelos nativos e
pelos que aqui chegam para trabalhar e acabam cooptados. Somos um povo
diferenciado. Não diria preguiçoso, mas malemolente, dengoso assim como Caymmi, nosso “buda nagô”, para quem se
o mar pegasse fogo, pacientemente, esperaria o peixe frito na praia. Não há
demérito na afirmação do mineiro, apenas o nosso ritmo é outro, como comprova o
arrastão provocado pela passagem do trio elétrico.
Em nenhum estado brasileiro
poderia ter surgido “coisa” como a “axé music” ou o detestável “pagode baiano”.
Porem, nada disso faz com que o trabalho, a produção e a ocupação profissional
sejam instrumentos que se justificam somente pela festa, pela farra, pela
gandaia como aquela que levou uma multidão a desembolsar R$160,00 para ouvir, mais do que devia do Jota Quest, e feras como Joss
Stone, Skank, Monobloco, Preta Gil, Carlinhos Brown. Aliás, bateu uma
dúvida sobre esta afirmação.
Foto: Jota Quest
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