O nível de degradação e de indigência que a música popular alcançou nestes últimos tempos, de tão vergonhoso e rasteiro não deveria mais causar qualquer tipo de indignação ou surpresa, como se tudo já não tivesse sido visto e ouvido e, que a lata de lixo seria apenas mais um elemento sonoro da composição e não o recipiente de dejetos diversos, como a própria música executada. Uma espécie de metalinguagem; o uso do lixo para falar do mesmo.
Este final de semana em Morro do Chapéu em um barzinho, enquanto esperava a presença de
outros familiares e amigos, um carro estacionou nas proximidades do estabelecimento.
Como um autômato, o seu proprietário ou motorista, atendendo uma solicitação
das profundas do inferno, levantou a porta do bagageiro do veículo, fazendo
ecoar por todo o espaço o volume aterrorizante do seu trambolho musical para
desespero de tantos quantos tiveram o desprazer dali se encontrar. “Essa bunda
não é sua/ esse peito não é seu/tudo isso aí foi feito/com todo o dinheiro meu”,
era só o inicio de uma lavagem de roupa suja em praça pública e cuja ladainha, provavelmente,
só terminaria em uma delegacia de polícia juntamente com o motorista e seu trio
elétrico, ambos enquadrado na lei de silêncio com apreensão do bagulho e a devida
penalização pecuniária.
Logo os amigos chegaram e obedecendo a um sinal
imperceptível aos nossos olhos e ouvidos levantamos ao mesmo tempo em qualquer direção
e local, deixando para trás, o pobre diabo com a bunda e peitos que não eram
seus, sendo cobrados a todo volume e talvez devolvidos ali mesmo, com o
silicone escorrendo para a lata de lixo mais próxima, assim como os autores, os
personagens e os ouvintes desta decomposição pública.
Foto: Ilustrativa
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