quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Podem me prender, podem me bater...


A quartelada militar de 31 de março de 1964, que este ano completa 50 será lembrada, jamais comemorada, com a realização de alguns eventos culturais, shows, exposições, peças de teatro como a volta do show Opinião a primeira resistência cultural ao golpe. 

Escrita por Oduvaldo Vianna Filho e dirigida por Augusto Boal, o show Opinião contava com a participação de Nara Leão, Zé Keti e o João do Vale, personagens desiguais de uma realidade que atingia a todos, como a moça classe média de Copacabana, o sambista dos morros cariocas e o cantor e compositor nordestino.
A volta do Opinião não será uma remontagem do espetáculo, mas uma leitura daquele acontecimento em que as canções serão interpretadas pela cantora Joyce e o grupo Casuarina, tendo o jornalista Sérgio Cabral como mestre de cerimônia lembrando fatos e histórias do show, ele que é o biógrafo de Nara e grande conhecedor da música brasileira.

As canções do show foram compostas por Zé Keti e João do Vale, também participantes do espetáculo e mais Edu Lobo, Sérgio Ricardo, Carlos Lyra, Ary Toledo e se tornaram inesquecíveis como Peba na Pimenta, Pisa na fulô, Carcará, Borandá, Opinião, Marcha da quarta feira de cinzas etc. Estas e outras canções se encaixavam com perfeição no engajamento político pretendido pelos autores do texto, no qual Nara, uma cantora surgida na bossa nova, se revelava uma cantora de protesto, para surpresa e espanto de seus colegas do movimento bossanovista. 

É parte da história a presença de Nara em Salvador assistindo um espetáculo em que Maria Betânia participava ainda de menor e iniciando carreira, não teve dúvidas em indicá-la como sua substituta no show Opinião do qual se afastaria por problemas de saúde. Betânia conseguiu superar Nara e tornar a canção Carcará, um sucesso nacional.

O golpe militar de 64, será lembrado como algo a esquecer e nos livrar para sempre dos brucutus, dos tanques, das baionetas, das prisões, das torturas, do cerceamento da liberdade de expressão, do obscurantismo de uma longa noite sangrenta. Não passarão! 

Foto: Capa do disco Opinião

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