Revi o documentário A gente é para o que nasce, com as três irmãs paraibanas, cegas, Maria, Regina e Conceição, filhas de pobres lavradores, que desde cedo passaram a sobreviver graças ao recolhimento de esmolas como resultado de suas cantorias pelas feiras livres,
portas de igrejas e festas do sertão nordestino.
O filme acompanha a vida e os afazeres destas
mulheres que a proporção que a equipe de filmagem avança em suas direções como
a desvendar a curiosidade e o sofrimento de suas vidas, elas surpreendentemente
se colocam como celebridades, mas tudo de modo ingênuo, sem afetação, de uma
pureza comovente. Uma cena em especial traduz este despojamento quase infantil,
quando elas se dirigem a uma praia para banhar-se em uma piscina formada por
arrecifes e rochas em cenário de rara beleza. As três seguem como presas uma às
outras, como corda de caranguejo, até o momento que se postam frente à beira do mar.
Alí, lado a
lado, como obedecendo a um comando, levantam as saias e tiram os vestidos e
completamente nuas se lançam ao mar com seus corpos de mulheres gordas, seios
fartos e decaídos, pernas e barrigas cobertas de estrias, sem beleza, numa cena desprovida
de qualquer sensualidade, muito pelo contrário, mas de uma nudez sem sedução.
No final elas se encontram diante do Palácio do Planalto, em Brasília, onde foram recebidas pelo Presidente Lula e sua esposa e
recepcionadas pelo então Ministro da
Cultura, o cantor e compositor Gilberto
Gil. Na homenagem elas entoam o Hino
Nacional acompanhadas de seus rudimentares instrumentos de percussão, como
brasileiras que deixaram, por um momento de suas vidas, a aridez e a poeira do
sertão para sentirem em seus pés a delicadeza dos tapetes de um palácio e de
uma vida bem distantes das suas. Bonito de se ver, a ostentação e a singeleza.
Foto: Maria, Regina e Conceição.
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