sexta-feira, 4 de abril de 2014

Tem que acontecer.

Quando o sono demora de vir e parece dar voltas em torno da cama, antes de adormecer embriagado por suas ondas de silêncio e paz, fico na espera e na companhia da Rádio Globo-Rio, mais especificamente sintonizado no Programa Planeta Rei, do Beto Brito. Vez por outra um sobresasalto, já que por ser um programa em que o radialista atende ligações de ouvintes também insones, fica-se à deriva de vozes do além que soam como assombrações musicais noturnas a cargo de Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Reginaldo Rossi, Amado Bastista, enfim, desta desagradável turma do barulho.

Mas o saldo é bom, até o sono chegar. Como nesta madrugada em que ouvi, o injustamente esquecido, Sérgio Sampaio, capixaba e conterrâneo do Rei, de Cachoeiro do Itapemirim, morto aos 44 anos, sem que tivesse sido satisfeito o seu desejo de ter uma de suas composiçãoes gravada por sua majestade. Coisas do Rei que fareja talento onde talvez só exista o comercalismo mercantil que faz girar a caixa registradora de sua carreira.

Quanto ao Sérgio, gravou poucos discos, mas o suficiente para marcar a sua presença no panorama musical dos anos 70, onde entrou com um sucesso nacional, “arrasa quarteirão”, ainda hoje executado e lembrado como Eu quero é botar meu bloco na rua. Tenho dois discos seus, desde aquela época. O primeiro com o título de seu único e grande sucesso (Eu quero é botar meu bloco na rua) traz boas composições como Pobre meu pai, Filme de terror, Viajei de Trem, Cala a boca zebedeu em que pese ser um disco eclético demais para a época, pois cheios de rocks, baladas, sambas, que pode parecer confuso, mas agradável de ouvir. 

O outro disco é Tem que acontecer, onde Sérgio se cerca de bons letristas e músicos do porte de Altamiro Carrilho e Abel Ferreira e que resulta em um disco mais uniforme, mais musical com bons sambas e choros como Tem que acontecer, O filho do ovo, Velho bandido, Quatro paredes, Velho bode etc. Sérgio Sampaio morreu em busca do reconhecimento de sua capacidade musical, da sua originalidade como artista, em um meio em que fama e o sucesso nem sempre andam na mesma na calçada da criatividade e do talento. É preciso ouvir Sérgio Sampaio.

Foto: Disco de Sérgio Sampaio


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