Qual o interesse ou a motivação que possa
despertar um disco de regravações de músicas como O Pato, Tim tim, por tim tim, Você e eu, Desafinado, Aos pés da cruz,
imortalizadas que foram por registros definitivos de João Gilberto? Pois é, aí está a resposta ao aparente enigma em seu
mais novo disco Gilbertos Samba uma
homenagem ao repertório do mestre João
por um dos seus tantos discípulos, como Gilberto
Gil.
E Gil, nesta altura do
campeonato se permite tudo. Ele que já prestou reverência a Bob Marley ou Luis Gonzaga com releituras de suas canções, agora se põe em frente
ao legado de João com a competência
de quem se viu aos 17 anos embevecido e intrincado com os acordes e as
dissonâncias criadas pelo ícone da bossa nova.
Se o tributo fosse prestado a 20
ou 30 anos atrás provavelmente teria encontrado a voz de Gil sem as marcas do tempo e dos excessos em interpretações cheias
de vocalises, gritos, buscas desnecessárias de sonoridades graves e agudas para
a sua voz, o que lhe causou calos e perda de vigor e viço na sua musicalidade.
Fato que Caetano lhe chamou a
atenção algumas vezes, para que evitasse os excessos a que estavam expostas as
suas cordas vocais, pereceptíveis nestas gravações de seu novo disco, onde a
voz não alcança certos graves pretendidos, mas a Gil é permitido tudo, até mesmo os desacertos.
Não quero com isto dizer que o disco seja uma má empreitada, pois
não é, especialmente pelo violão de mestre que poderia até prescindir do
acompanhamento percussivo e de cordas dos jovens músicos que lhe seguem como Pedro Sá, Rodrigo Amarante, Domênico Lancellotti
e mesmo assim seria prazeroso voltar a ouvir Desde que o samba é samba, Doralice, Milagre, Eu sambo mesmo, Eu vim da
bahia, nesta produção de seu filho Bem
Gil e de Moreno Veloso, filho de
Caetano.
Foto: Gil
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