Ao assistir recentemente o documentário sobre o
cordelista Cuíca de Santo Amaro foi
desfeita a impressão de tê-lo visto em frente ao Elevador Lacerda, um dos pontos onde vendia as suas histórias, mas
não, quando cheguei por aqui, Cuíca
já não estava mais em atividade. Mas, outros poetas populares vieram ocupar o seu
espaço, vendendo obras tão inusitadas e desbocadas quanto aos do cordelista
santo-amarense.
Maridos traídos, padres adúlteros, moças que fugiam de casa, políticos
que metiam a mão na roda, entre outros delírios mundanos, cujos títulos eram
vendas asseguradas aos seus leitores fieis, pelos assuntos de uma cidade
provinciana onde a vida dos outros era a vida de todos. Dizia-se que Cuíca de Santo Amaro era o Gregório de Matos, do século XX, o Boca do Inferno de uma cidade em mutação, só que sem o rigor
estético, a bagagem intelectual e a fina gramática do poeta barroco baiano. Mas,
com a sua mesma verve para o escracho, o deboche a exposição das mazelas de uma
sociedade hipócrita, onde nada escapava aos seus versos de trovador ferino; morte,
sexo, política.
Os títulos dos livretos de cordel de Cuíca de Santo Amaro eram por si só,
parte da história ou daquilo que se desenrolaria nos versos de rimas pobres,
mas cheios de picardia e esculhambação que eram aguardados e por sua vez
temidos por suas possíveis vítimas. Como o fato que se conta, envolvendo o artista
e escultor Mário Cravo de ter dado
uns sopapos em Cuíca, por suas
insinuações contra aqueles que frequentavam a boate Anjo Azul, gerenciada por dois homossexuais e grande sucesso entre
os jovens nos anos 50. Alguns exemplos dos cordéis de Cuíca de Santo Amaro, os títulos abaixo:
Os bezerros que tocam clarinete
O casamento de Orlando Dias com Cauby Peixoto
O que se passa no Hotel Dorival Caymmi em Itapoã.
Tarado em Alagoinhas
A sogra do Malaquias
O Carnaval e a pederastia
O marido que passou o cadeado na boca da mulher
e muito mais...
Foto: Cuíca de Santo Amaro (personagem do filme)
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