Todas estas campanhas, palestras, entrevistas
contra o uso do cigarro e dos seus malefícios me fazem lembrar a luta que
travei para deixar a sua companhia e o sacrifício decorrente desta sobrecarga
de força de vontade em favor da saúde. Não é nada, não é nada, mas são 35 anos,
neste 2015, mais precisamente em 25 de maio de 1980 que deixei o gesto otário
de procurá-la nas espirais, como nos ensinava uma canção da época, aliás, bem
antes, que quem sabe nos inspirou esta busca inútil nos cigarros que fumava.
Os dias iniciais sem o cigarro, logo após o seu
abandono, foram os mais difíceis da caminhada.Andava tonto, tanto que tomava
banho com a porta semiaberta por medo de desmaiar e ficar preso no box, sem
socorro. A ausência do cigarro levou como solidariedade a abstinência à
cerveja, tal qual a corda e a caçamba, visto a interdependência entre os
desejos.
Mas o grande teste viria com as festas juninas a seguir, em que alguém teria que ceder e, a cerveja, sem companhia, cedeu. Não sem um custo, como ao que ser levado à Farmácia de Zezinho para uma dosagem de glicose que pelo menos me deixasse de pé, já que a “leseira” me impelia ao chão, à cama, ao desfalecimento. Dias de cão.
Sentia que mais de um mês depois já tinha
arregimentado forças que não me fariam retroceder. Cigarros nunca mais. O
espelho dava sinais que um novo corpo surgia em substituição ao aprendiz de
faquir, que usava calças 36 e às vezes 38 começaram a estranhar a minha circunferência
abdominal, como quem travava uma luta matinal sempre que me preparava para as
lides bancárias.
Aquelas calças foram também me abandonando, dando lugar a figurinos
mais espaçosos para uma barriga proeminente e pernas de nadador. Ficou a
irritação que o cigarro me causa em qualquer espaço público que frequente, o que me
faz discretamente, às vezes não, me levantar de forma abrupta de onde estou,
para longe, bem longe do fumante inconveniente, que devo também ter sido um
dia.
Foto: Ilustrativa
Foto: Ilustrativa
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