“Vai passar nessa avenida um samba popular/ cada
paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar”, cantava sozinho no
asfalto da Avenida Paulista um
senhor idoso, grisalho, corpulento. No tempo em que nossos caminhos se
cruzaram, a cantoria não chegou ao verso que diz que “o estandarte do sanatório
geral vai passar”. Mas era disso que se tratava o teatro de 15 de março de
2015, no qual a minoria branca paulista finalmente mostrou seus dentes
arreganhados empapados de baba coagulada.
Senão, vejamos. Eleitor e reeleitor da
presidenta Dilma
Rousseff, o adorado sambista-emepebista Chico Buarque lançou
“Vai Passar” em 1984, usando o mote em samba-enredo como metáfora para a campanha
pela redemocratização pós-ditadura civil-militar do Brasil com S. Quem ia passar, nas primaveras de 1984, éramos nós,
brasileiros com S, livres finalmente dos coturnos, das torturas de porão e da
matilha de manietadores estrangeiros de generais braZileiros com Z.
Transcorridos 31 anos da canção de porvir de Chico, o senhor rotundo a canta
circundado por atmosfera opressora, direitiça, grávida de ódio e dentes brancos
arreganhados. Os cartazes ao redor dele não pedem, antes exigem uma
“intervenção militar constitucional” – o estandarte do sanatório geral, no
registro oposto ao pretendido pelo sambista esquerdista de olhos azuis.
Fonte: Farofafá
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