quarta-feira, 11 de março de 2015

Os trotes universitários (paulistas)

Em uma de suas últimas colunas o Professor Pasquale Neto deixou de lado as suas análises sobre os erros de português cometidos por nossos jornais em suas manchetes, o detalhamento das questões de vestibulares e principalmente a construção de nossos poetas e compositores em seus trabalhos, por um viés gramatical, para se deter sobre a violência dos trotes universitários. A sua indignação pode ser compartilhada por todo aquele que preza os valores humanos, de respeito e solidariedade ao semelhante, pouco importando a sua escala social e no caso do enfoque universitário, se calouro ou veterano. 

A corajosa revelação de uma jovem que disse ter sido ser estuprada em um desses trotes paulistas junto ao Ministério Público Estadual desencadeou uma serie de denúncias de outros alunos quanto aos maus tratos sofridos nestas sessões de tortura e barbárie em seus primeiros momentos como aluno de uma dessas universidades paulistas. O fato de ser paulista é sintomático, já que as denúncias e os casos de mortes ocorridas nestas comemorações macabras são sempre de instituições no Estado de São Paulo, o que talvez explique a origem da expressão “elite branca e perversa” e a carga de seu preconceito e agressividade contra aqueles que habitam em volta de seu quintal “quatrocentão”, ou o que dele restou.

A jornalista Malu Delgado dedicou algumas páginas, também recente, da revista Piauí para adentrar no mundo sombrio e cruel dos trotes praticados pelos veteranos da FAMUSP – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O resultado faz jus aos torturadores do remime militar pós-64, como se fossem carrascos da OBAN e do DOI-CODI, ao invés de futuros médicos cuja participação na sociedade deixa dúvida quanto ao humanismo de práticas tão cruéis de quem foi e quem sabe ainda serão capazes. Assustador
O glossário das práticas de sevícias é apenas conhecido de universitários e docentes, mas quem sabe também dos fundamentalistas do estado islâmico. Pascu – ritual de passar pasta de dente no ânus do novato que às vezes é acompanhado de pimenta. Rancho – mistura de comida estragada e vômito que os calouros são obrigados a comer em festas de boas vindas. Mastiguinha – comida que vai da boca do veterano para a do calouro. Ice on the balls – prática de encher de gelo cuecas dos novos estudantes. Sequestro – ritual de colocar o estudante recém-chegado numa sala, nu, e obrigá-lo a encenar posições sexuais, ou segurar frutas entre as nádegas. Chega!

Foto: Ilustrativa

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