Uma das imagens bonitas, talvez a mais bonita
do Carnaval de Salvador seja a saída
do bloco Filhos de Gandhi do Pelourinho, descendo a Rua Chile e se espalhando pela Carlos Gomes até o Campo Grande e de lá por toda a Avenida Sete cobrindo estes locais com
um imenso tapete em movimento. São seus quase quinze mil homens, equivalente a mais
de quatro escolas de samba, vestidos com túnicas brancas e muitos colares,
entoando cânticos que remetem ao candomblé na batida do ijexá.
Mas, nem sempre foi assim, até que um grupo de
estivadores do Caís do Porto, em
1949, resolveu que eles também
podiam brincar o Carnaval e deixar
de ser meros espectadores das grandes sociedades carnavalescas, a que não
tinham acesso por questões financeiras e quem sabe sociais e mesmo raciais. Como
era pessoas ligadas ao candomblé levaram para as ruas seus rituais e oferendas,
tendo o cuidado de dissimular estas manifestações religiosas com a presença do
pacifista Mahatma Gandhi como recado
que era de paz, e alegria. Aí, está presente o toque da maluquice baiana, o
candomblé de origem africana ao lado do idealizador do moderno estado indiano,
o hindu Gandhi.
De 38 participantes iniciais, o afoxé Filhos de Gandhi foi a cada ano
aumentando a sua quantidade de associados até o espantoso número de
participantes, hoje, que toma as ruas de Salvador
num espetáculo inesquecível. É verdade que a maioria, talvez a quase totalidade
de seus foliões em nada se assemelha ou conhece os ideais dos seus fundadores,
os estivadores do caís do porto.
Os novos Filhos de Gandhi estão apenas ligados em jogar alfazema e
presentear as jovens que esperam o afoxé
passar, pela recompensa de um abraço, um beijo, uma visita aos hotéis do
percurso. Ou de paulistas “parmalat” que alvejaram o Gandhi e vieram ver o que é que o “baiano” tem. Pelo visto, viram e
gostaram tal a frequência com que voltam.
Foto: Filhos de Gandhi
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