quinta-feira, 12 de março de 2015

Cinzas na privada


Já se passaram dois meses que fundamentalistas islâmicos invadiram a redação do jornal satírico francês, Charlie Hebdo, matando seus desenhistas e jornalistas inclusive o mais notório deles, o safado e sacana – no bom sentido, se é que isto é possível – o Georges Wolinski, um devasso genial conhecido ao redor do mundo. 

Questões religiosas, éticas, comportamentais, políticas saíram de seus esconderijos para se encontrarem ante ao dogma da liberdade de expressão, princípio constitucional nos países civilizados e democráticos, unindo na discussão, conservadores e progressistas na defesa e ponderações. Não houve nem haverá vencedores quando somente a liberdade terá força para guiar e compreender as ações dos homens, que só se deixa dobrar diante da brutalidade. A metralhadora venceu o lápis.

O jornalista e escritor Reinaldo Moraes conta uma pequena história que dá sentido ao escracho e o jeito escroto de ver e viver a vida, de Wolinski. A sua segunda esposa contou em uma entrevista, que vendo ele se aproximar dos 80 anos, o desenhista revelou que não queria saber de túmulo, nem de cemitério, quando morresse. Seu desejo era ser cremado. A ideia intrigou Maryse que perguntou, onde então jogar as suas cinzas. Ele então, bem ao seu estilo decidiu: “Joga na privada, assim, cada vez que você se sentar sobre a minha tumba, eu verei teu rabo”. 

Charge: Nani

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