Triste passar pela Barra e ver o Hospital
Espanhol, um dos símbolos da saúde hospitalar da cidade, amargando uma
crise que se arrasta faz tempo, sem uma solução aparente para as sua dívidas e
seus problemas administrativos. Mesmo sem jamais ter usado seus serviços,
talvez o seu laboratório para a realização de exames, solicitados por algum médico
distante de sua unidade, mas levado pela possível qualidade de seus técnicos,
guardo do Espanhol uma história
contada por Mãe Maria, em um dos
seus internamentos na busca de atenuar os problemas da sua frágil saúde.
Vi o mar pela primeira vez, através dos olhos da
Mãe Maria, que da janela de seu
quarto no quinto andar do hospital se abria para uma paisagem azulada que lhe
enchia de alegria e de sonhos como compensação para a sua saudade de casa e de
nós. A sua descrição do mar não ia além de alguns adjetivos, de uma palheta de
cores que variava entre o azul, verde, branco, o amarelo do por do sol, as
ondas, as embarcações ao longe que ajudavam formar uma imagem em minhas retinas
infantis, daquilo que tanto lhe deslumbrou. E que naquele momento também a mim
encantava.
Quando de fato vi o mar, através da
amurada do Elevador Lacerda, já trazia
alguns elementos listados por Mãe Maria
na sua concepção, que ajudaram a compreender o seu encantamento, agora enfim
vivenciado por mim em alguns longos minutos. O mar em nada lembrava as poucas
aguadas do sertão onde passamos nossa infância, armazenando ameba,
esquistossomose, verminoses diversas entre outras mazelas de nosso
subdesenvolvimento sanitário. O mar era muito mais.
Foto: Hospital Espanhol
Nenhum comentário:
Postar um comentário