domingo, 4 de agosto de 2013

A João o que é de João.

Numa demanda judicial cheia de idas e vindas, parece que enfim João Gilberto conseguiu a autonomia e domínio sobre seus três primeiros discos e um compacto duplo gravados na Odeon, hoje EMI, gravadora inglesa. Nada mais que justo o autor da obra seja de fato o seu dono e protetor contra o mercantilismo fácil e sem qualquer compromisso com a cultura do país como são os discos de João, pilares da bossa nova, para a música não apenas brasileira, mas a história da música como um bem de toda humanidade.

O mesmo desembargador do Tribunal de Justiça do Rio que determinou a gravadora EMI, como administradora e protetora da obra de João, voltou atrás e decidiu que as matrizes dos discos devem ficar mesmo com o seu autor. Os advogados de João mostraram que ele havia contratado uma empresa para guarda e preservação daquelas matrizes, argumento que serviu de base para a decisão judicial favorável à gravadora, sob a alegação de que ele, João, não tinha capacidade de preservar tais raridades.

Os discos “Chega de saudade”, “O amor, o sorriso e a flor” e “João Gilberto” estão de vez de volta prá casa. A irritação de João e o início desta demanda foi uma violação praticada pela gravadora, com a compilação destes três discos em um só disco com duração de mais de 70 minutos. Faixas adulteradas em seu tempo de duração e intervenção em arranjos que atropelavam a execução das músicas se comparadas ás gravações originais levaram o artista a esta longa busca pela propriedade de sua obra. Tenho este disco e é perceptível o caráter caça-níquel da EMI, que ao invés de relançar os discos em seu formato original amontoou mais de 30 faixas de discos primorosos e definitivos para a música brasileira em um único CD, num flagrante desrespeito e baixo instinto comercial. Enfim, a justiça não desafinou.
 
Foto: João Gilberto

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