Nunca
aceitei as cotas raciais como condição para pretos e pardos, alunos de escolas
públicas, terem em parte garantido o ingresso nas universidades oficiais. Aos
meus olhos a generosidade governamental constrange mais do que repara, como já
li e ouvi de muitas cabeças coroadas do meio acadêmico teorizando sobre o tema,
inclusive representantes dos muitos movimentos negros ou mesmo autoridades
negras contrárias a esta indulgência de cristãos oficiais.
A escravidão é uma chaga quase sempre aberta cada vez que atitudes como essa
busca reparar erros coloniais em detrimento de políticas públicas que
contemplem todos, negros ou não, atentando para princípios básicos
constitucionais como o direito a saúde, educação e a moradia, indistintamente.
Não se pode através dos séculos viver purgando pecados escravocratas pelos que
hoje trazem na pele escura marcas deste passado que historicamente, nos
envergonha, já que todos trazemos em nossa formação antropológica, longe ou
perto, legados da escravidão. Por exemplo, o nosso bisavô, Clemente, tinha um pé, aliás, os dois, os braços, o corpo na
senzala, sem que com isso se fizesse tão explícito naqueles que os sucederam,
mesmo trazendo a negritude em nossa formação.
Conceder aos negros e pardos, alunos de escolas
públicas, o bônus de 15 a 20 por cento em suas notas no vestibular, como forma
de compensação racial, além de humilhante e indecente, é reconhecer a baixa
qualidade do ensino público que precisa desta esmola para fazer face aos
concorrentes do ensino privado. Até a USP,
a excelência do ensino público universitário, resolveu entrar na ciranda das
bonificações, concedendo também um bônus de 5% àqueles alunos como meta de um
projeto inicial que pretende até 2018 ampliar de 28% para 50% o número de
aprovados em seus vestibulares provenientes da rede publica. Tudo em nosso país
é assim, frutos de remendos, de tapa-buracos, jeitinhos, enfim, como se diz no
popular “feito nas coxas”.
Foto: Ilustrativa
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