Sou mais ouvinte que leitor do Blog do Noblat, por razões ideológicas,
preferências e crenças políticas. Explico. No blog do jornalista há um link que lhe
conduz ao Jazz e Tal, uma seleção
primorosa de grandes nomes da música brasileira e americana, rock, Beatles, músicas de filmes, Elis, Tom, Chico, Milton, Caetano,
música clássica, enfim, tem para todos os gostos. Dia desses ouvi no Jazz e Tal uma música do disco Índia de Gal, em 1973, de autoria de Caetano
e Pedro Novis, chamada Relance
que havia tempo não escutava, o que me remeteu aos velhos arquivos musicais e
voltar a ouvir Relance.
A canção é
um curioso jogo de palavras a partir da primeira pessoa do presente do
subjuntivo de vários verbos que traz às vezes o seu oposto em frases como quebre –
requebre, cite – recite, toque – retoque, vele – revele e assim sucessivamente
até o seu desfecho com o curioso “morra – renasça”. Relance tem um ritmo frenético pontuado pelo endiabrado acordeom de
Dominguinhos, figura de destaque
neste disco também pelo arranjo de Desafinado,
que conduz a um final apoteótico onde Gal
exibe os seus privilegiados agudos e leva a dúvida, ainda hoje, se em
alguns momentos palavra cantada é “morra” ou “p....”, o que para os dias que vivíamos
era mais que pertinente o palavrão.
Índia, este disco de Gal, é uma espécie de acerto de contas,
um “tô fora” do conceito de musa do desbunde, da contracultura que assumiu
desde os primeiros discos tropicalistas, onde os agudos, os gritos, a rebeldia
nos gestos e nas roupas foi dando lugar a cantora extraordinária cuja
formatação já se delineava neste disco e se confirmaria no seguinte, Cantar, um dos grandes momentos da
música brasileira.
Não que antes de Índia,
a baiana fosse uma cantora sem
rumo, uma Janis Joplin tupiniquim,
uma rebelde sem causa, nada disso, ao contrário, a postura cênica e musical de Gal servia ao momento político e na
medida do possível expressava um descontentamento que era avalizado pelo seu “alter
ego”, Caetano e por tabela Gil, ambos exilados em Londres. Mas a vida era mais que isso e,
Gal era uma cantora popular e não
uma guerrilheira e a cada um conforme suas armas. “Tempo bom, tempo ruim”.
Foto: Gal Costa (Contracapa do disco Índia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário