Em 16 de agosto de 2008 Dorival Caymmi, há cinco
anos, nos deixava e deixava um pequeno acervo de pouco mais de 100 composições,
sendo mais da metade delas verdadeiras obras-primas e parte do repertório de todo aquele que se interessa pela música brasileira. Para uma vida longa
como foi a de Caymmi o seu legado
pode parecer pequeno diante de compositores com a mesma projeção e
reconhecimento seus, mas imenso se visto pela qualidade e pelo seu
perfeccionismo na elaboração de cada canção, onde cada frase, cada verso e cada
acorde eram burilados como um ourives moldando a sua joia. Algumas histórias da
lentidão e de seu jeito baiano de ser revelam este cuidado de Caymmi, onde uma canção podia passar
por alguns anos, que para ele era “um bom tempo”, até o seu término, até se
encontrar pronta, no ponto, para gravação.
O folclore em torno da canção João Valentão é emblemático neste
aspecto do burilamento e da longa espera pelo verso perfeito. A canção já estava
praticamente pronta para fechar a ideia contida no verso “assim adormece este
homem/que nunca precisa dormir prá sonhar”, mas ai o barco fez água e a canção
não prosseguia. Passaram-se anos, muito tempo, para que um feixe de luz
iluminasse de vez ainda mais as águas da Bahia,
e Caymmi enfim desse o desfecho
final à canção com o verso “porque não há sonho mais lindo/ do que sua terra,
não há”. Pura iluminação; coisa de bamba, de mestre.
Foto: Caymmi
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