sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Não há sonho mais lindo que sua terra, não há



Em 16 de agosto de 2008 Dorival Caymmi, há cinco anos, nos deixava e deixava um pequeno acervo de pouco mais de 100 composições, sendo mais da metade delas verdadeiras obras-primas e parte do repertório de todo aquele que se interessa pela música brasileira. Para uma vida longa como foi a de Caymmi o seu legado pode parecer pequeno diante de compositores com a mesma projeção e reconhecimento seus, mas imenso se visto pela qualidade e pelo seu perfeccionismo na elaboração de cada canção, onde cada frase, cada verso e cada acorde eram burilados como um ourives moldando a sua joia. Algumas histórias da lentidão e de seu jeito baiano de ser revelam este cuidado de Caymmi, onde uma canção podia passar por alguns anos, que para ele era “um bom tempo”, até o seu término, até se encontrar pronta, no ponto, para gravação.

O folclore em torno da canção João Valentão é emblemático neste aspecto do burilamento e da longa espera pelo verso perfeito. A canção já estava praticamente pronta para fechar a ideia contida no verso “assim adormece este homem/que nunca precisa dormir prá sonhar”, mas ai o barco fez água e a canção não prosseguia. Passaram-se anos, muito tempo, para que um feixe de luz iluminasse de vez ainda mais as águas da Bahia, e Caymmi enfim desse o desfecho final à canção com o verso “porque não há sonho mais lindo/ do que sua terra, não há”. Pura iluminação; coisa de bamba, de mestre.

Foto: Caymmi

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