Quando estou na Praça Getúlio Vargas, na Pizzaria
de Dione, tomando cerveja nos finais de tarde de sábado ou nas sonolentas
manhãs de domingo, compartilhando a minha solidão com o tédio da cidade alegre,
quase sempre sou tomado por uma sensação de pânico, de estranhamento. Qualquer
barulho que venha quebrar a monotonia do lugar provoca nas aves abrigadas nas
árvores que circundam a Praça uma
revoada de pássaros em qualquer direção inclusive onde, paranoicamente, estou.
Sou apossado pelo mesmo desespero dos personagens de Os Pássaros de Hitchcock,
um dos meus filmes de cabeceira.
Sem qualquer explicação (eles jamais dariam) ou
razão, os pássaros atacam de modo impiedoso e cruel uma família de moradores de
um sítio perdido em um descampado americano. A razão do ataque dos pássaros, provavelmente,
seja a mesma daquela que possa justificar a violência gratuita que nos assola
diariamente. Surge do nada, mas talvez o cerne não seja o nada, há no seu meio
a barbárie de onde todos viemos, homens e pássaros, a antropofagia.
Quanto aos Pássaros
será sempre uma busca imprescindível para os novos e antigos cinéfilos,
principalmente por saber da dor e do sofrimento que os atores do eterno filme
tiveram que passar para transparecer o que o cruel e perfeccionista Hitchcock queria
para a sua história, algo que as novas tecnologias resolveriam com uma simples
pressão em teclas de computadores ou maquinetas similares.
Foto: Cena de os Pássaros
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