Deixar o frio e a garoa da cidade alegre pelo
mesmo tempo instável que faz em Salvador pode parecer trocar seis por meia
dúzia, mas só faz parecer, pois no todo, quanta diferença, não apenas física e
geográfica, mas pelas mãos de afeto, pelos gestos de prazer que a minha
presença desperta nos meus e causa em mim. Estar de volta prá casa, onde e com
quem passarei o Dia dos Pais, rever
amigos com quem estive há quinze dias, mas que parece um longo tempo, estar com
familiares que aniversariam longe de mim, como estão Shirley e os olhinhos inquietos da minha netinha, Julinha, doem mas logo passam com a
fugacidade da minha ausência. Sinto estar cercado com o que me basta.
Nesta altura do campeonato já
conquistei o que havia disponível prá mim, já me aproximei e me afastei de
pessoas que são e não são imprescindíveis, já guardo no bojo do peito os poucos
amigos que podem me ver chorar; mais que isto é formar turma, galera, bondes,
arribação que meus cabelos brancos, o joanete, o esporão, o naturismo, o culto
à saúde, o sono cedo, os discos, os livros e jornais me impelem por outro lado
da rua.
Lembro uma frase de Miguel Falabella com relação às redes sociais que ele diz, entre
outras reflexões que “intimidade não é para amigos do facebook, mas para amigos
do face á face”. Pelo meu lado, bem que tentei e tento andar pelo facebook, mais
por insistência de Camila, minha filha, que criou uma página prá
mim, que propriamente por desejo de exposição ou participar do circo dos que se
mostram despudoradamente. Autoajuda demais, provérbios demais, religiões às
pencas, elucubrações políticas passionais, agressões gratuitas, curtições
otárias, juras (in)sinceras, segredos de liquidificador, gracinhas de
almanaques enfim... tudo muito chato com ares de verdades absolutas. Bem que
tentei fazer novos amigos na rede social e culpo a mim mesmo, não eles, pelo
lento andar da carruagem, por incapacidade de lidar com o novo, pela distração,
por não entender que amizade é uma mão dupla e precisa de retorno, de eco ou de
reverberação e não de quem somente tem a dar “solidão com vistas pro mar”.
Foto: Ilustrativa
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