domingo, 22 de dezembro de 2013

Água Lusa, o canto lusitano de Jussara Silveira.


Não temos com a música portuguesa uma familiaridade, um gosto, que por razões histórica e linguística nos permitiria com mais regularidade este intercâmbio, tornando o conhecimento mais intenso e natural, ao contrário daquele que temos com a música americana, mesmo que por força do imperialismo de mercado. Do lado português vemos a frequência com que artistas como Dulce Pontes, Eugenia Mello e Castro, Antonio Zambujo, Teresa Salgueiro estão sempre a visitar nossos compositores gravando suas canções e os recebendo com participações especiais em seus discos. Do nosso lado, parece que paramos na lendária Amélia Rodrigues e os sucessos de Nem as paredes confesso, Ai, Mouraria, Foi Deus, Uma casa portuguesa, Lisboa antiga e outros fados mais.

Por esta razão, o mais novo disco de Jussara Silveira, esta mineira-baiana, lançado este ano, Água Lusa, chamou a minha atenção, já que dedicado a música portuguesa, com todas as composições assinadas pelo poeta lusitano Tiago Torres da Silva em parceria com variados melodistas. São mantidas algumas características da música portuguesa como a saudade, a melancolia, a tristeza, mas que não soam tradicionalistas, ou passadistas já que os arranjos das canções, nem sempre fado, e a voz de Jussara imprimem uma vivacidade em versos que em sua grande maioria cantam o amor e o mar. 

E cantam bem, tornando-se desnecessária o pedido de desculpa da intérprete embutido nos versos de Na companhia dos fadistas que dizem "Sei que não sou do fado por nascença / E só o posso ser por condição / Por isso, ao começar, peço licença / E assim que terminar, peço perdão", bonitos, mas Jussara Silveira não faz feio. São admiráveis e tristes as canções O nome do mar, Voltarei a minha terra, Beijo alentejano, Sereia, O mar fala de ti entre outras que em nenhum momento trazem este sentimento de desencanto e se por acaso vier eles são absorvidos pela precisão e delicadeza da voz de Jussara Silveira e dos bonitos solos de guitarra portuguesa, acordeom e piano. 

Assim, os pedidos de desculpas ou de perdão dos versos acima são dispensáveis, já que ela continuará sendo uma cantora brasileira, que incursionou pela jovem e bela música portuguesa, como os seus colegas portugueses já fazem há temps com a nossa música.

Foto: Jussara Silveira

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