Sempre que estou de volta prá casa, em Salvador, entro no quatro dos fundos e
retiro de modo aleatório um LP no
meio da pilha que com tristeza vejo entre outros trastes e tralhas ali
depositados, fruto desta vida comprimida que a cidade grande nos impõe. A busca
por qualquer LP me traz a lembrança
o contato com as grandes produções musicais que as gravadoras multinacionais
aqui instaladas, já foram capazes, quando o mercado era ditado e comandado por
elas e que hoje são meras fotografias de um tempo bom para elas e para nós,
seus consumidores. Já ouvi-lo em seu formato original, LP, é uma tarefa que
requeria o pick-up, aparelho que fui substituindo por outras novidades
tecnológicas, com a perda da qualidade sonora que guarda os 78 rotações, conforme
apregoam ouvidos além da sensibilidade e percepção auditiva. É o tempo.
Desta vez, estive em mãos com o disco de Betânia, de 1990, em comemoração aos seus 25 anos de carreira, refletidos em uma
produção impecável desde o encarte aos músicos da linhagem de Wagner Tiso, Hermeto Pascoal, Toninho
Horta, Egberto Gismonti, Sivuca, Márcio Montarroyos, Jaques Morelebaum etc
uma constelação estelar nem sempre possível de reunir, não só pela ausência de
Sivuca, mas pela grandiosidade de artistas referenciais. Sem contar com as participações
mais que especiais de João Gilberto,
Nina Simone, Gal Costa, Fátima Guedes, Almir Satter nesta superprodução em
homenagem a Betânia.
Do disco, entre outras pérolas, destaco uma
canção bonita e antiga de Mirabeau e
Jorge Gonçalves que Betânia garimpou,
como é de seu feito, em algum baú de guardados, a Quase e seus versos que são “pura entregação”: “Quase que eu digo
agora/o seu nome sem querer/não quero que zombe/de nós toda essa gente/é por
sua causa/ que eu estou tão diferente”.
Vídeo: Youtube (Betânia - Quase)
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