terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Do pó ao pó!

Levantamento recente realizado nas cidades de São Paulo e no Rio revela que o número de pessoas, em vida, ou familiares que optam pela cremação dos corpos de seus mortos tem crescido numa escala que tende a se igualar aos sepultamentos em terra. Nada mais natural, até como consagração do principio bíblico que do pó foi feito e a ele retornará, se bem que o que o pó que restará difere em muito do pó de onde viemos segundo se propaga. Creio mesmo bem diferente, a partir da experiência ou comentário sensacionalista, por exemplo, em torno da figura de Keith Richards, o “malucão” dos Stones, que num destes acessos de baratos radicais misturou e cheirou entre outras substancias, as cinzas do próprio pai, e cuja “larica” se desconhece, se o pó do velho deu liga ou não.

Mas a cremação apesar dos custos, que não deve ir muito além daqueles dos sepultamentos tradicionais, mesmo para um enterro sem pompas ou circunstâncias, é ecologicamente bem mais correto, evitando a poluição dos terrenos, a ocupação de áreas imensas nas cidades para sepultar a população. Sem contar a quebra da cadeia alimentar do tatu peba que reza a lenda se alimenta de cadáveres nos cemitérios. Como nunca comi tatu, peba ou bola, permaneço distante da antropofagia, da carne humana por via indireta, assim como o Richards dos Stones que se aproximou por outras vias do corpo de seu semelhante, seu pai.

Já assisti algumas cerimônias em crematórios e, em que pese a dor e a saudade pela perda de pessoas que amamos, o fardo parece bem mais leve, mesmo diante de manifestações emocionadas de familiares e amigos. A solenidade ainda que longa, é concluída com o desaparecimento da urna funerária para o centro de um altar, cujos procedimentos a partir dali só Deus sabe, e os coveiros também. Assim, todos nós, mais eles que nós, por enquanto, ficamos livres de intermináveis pás de terra pela cara ou do peso de uma laje, num ritual que marca para sempre como aquela angústia cantada por Toquinho e Vinicius em Testamento: “Por cima uma laje/embaixo a escuridão; é fogo irmão, é fogo irmão!”

Foto: Ilustrativa

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