Dia 04 de dezembro dia de Santa Bárbara, para o povo de santo, Iansã e, inicio das festas populares de Salvador. Às 10 horas, logo
após a alvorada, missa na Igreja de
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, e dali em procissão até o Mercado de São Miguel, na Baixa
dos Sapateiros, onde está exposta em suas dependências uma imagem da santa e
é servido um cararu em sua homenagem. O relato parece de guia de turístico, mas
é de quem sempre andou pelo calendário das festas populares da cidade, quando a
ocasião permitia ou mesmo quando não, arranjava algum pretexto para passar pelo
Largo do Pelourinho, Baixa dos
Sapateiros, Mercado São Miguel e imediações. Longe do caruru, mas próximo
da primeira cerveja que avistasse.
Mas, em minha última experiência com a festa de
Iansã, não tive as graças, nem a
proteção de Santa Bárbara, mesmo
tendo passado na igreja, vestido camisa vermelha e recebido passe de uma mãe de
santo. Transitava sem sobressalto pelas proximidades do Mercado de São Miguel, quando avistei ao longe a procissão se
dirigindo em direção ao Mercado. A Baixa dos Sapateiros já apresentava uma
movimentação inquietante e frenética que qualquer detector de vagabundo
sinalizaria a área como conflagrada de maloqueiros. Procurei abrigo em uma
loja, mas fui gentilmente dispensado pelo seu funcionário sob a alegação de que
cerraria as portas, temendo o tumulto, decisão, aliás, que também tomaria se
fosse comerciante daquela área próxima ao Mercado.
Tentei me afastar o quanto pude do local onde estava, tirei a carteira do bolso e
pus na pasta, com documentos, que carregava e a comprimi sobre o peito, já
estando na calçada. Separei R$20,00
e coloquei no bolso do lado direito da calça, o mais profundo possível em uma calça
apertada, face alguns quilos que vinha ganhando nos últimos tempos, por falta
de uma dieta que tempos depois seria obrigado a fazer.
A multidão crescia, os vagabundos fervilhavam e
eu cada vez mais pressionado sobre a parede em meio a pedidos de desculpas que
faziam parte do achaque, com tons de civilidade. Entre todos e tantos
empurra-empurras consegui, com muito esforço, me desvincilhar daquela turba, misto
de fieis e maloqueiros, e respirar ares de liberdade e de desejo de uma gelada.
Ao tentar puxar os R$20,00 do bolso
frontal da calça fui surpreendido com a sua ausência e a constatação que tinha
sido roubado por aqueles religiosos 171.
Ainda hoje imagino a habilidade
daquelas mãos, já que em nenhum momento senti estar sendo bolinado e, se além
da grana tivessem também levado o saco, só notaria quando fosse ao sanitário no
Bar de Dona Val, na Barroquinha.
Eparrei Iansã!
Foto: Largo do Pelourinho - Festa de Santa Bárbara
Nenhum comentário:
Postar um comentário