quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Na praça


Antes da urbanização da Praça Getúlio Vargas, pelo prefeito Joaquim Sampaio Neto (1958-1962), havia uma lateral de seu quadrilátero, indo do seu sobrado até a casa de Dona Adélia, que transformava a praça no ponto de encontro de quase toda a cidade. Ali, moças em grupos, rapazes em bandos subiam e desciam como numa espécie de gangorra social da província. Com freqüência e motivado por razões diversas, eram formados pelotões mistos, obedecendo ao mesmo trajeto, vez por outra modificado por alguma dupla à procura dos cantos mais escuros da praça. Mas toda ela era um bréu, mesmo recebendo o clarão das “petromax” do bar de Josué e a luz difusa dos candeeiros das salas das residências que ladeavam a praça.                      

Mas o “footing” na Praça Getúlio Vargas, era o que de melhor havia na cidade, principalmente aos sábados e domingos. Mais ainda, quando retornava à terra o grande contingente de alunos em férias, que estudavam em  internatos das cidades de Campo Formoso, Senhor do Bonfim, Jequitibá ou Salvador. Nestas ocasiões, o “vai e vem” se estendia até as imediações da casa de Professor Osvaldo, posteriormente Renê Navarro, tal o fluxo de pessoas em trânsito.

Havia assuntos para todos os ouvidos e matéria prima para a satisfação de qualquer curiosidade. As vitórias do Flamengo, os gols de Pelé, um bolero de Silvinho ou Orlando Dias, uma paixão contida, um pecado sem confissão, a mão à palmatória.  Uma saudade doendo, a alegria de uma nova presença, os “catecismos” do Carlos Zéfiro, as primeiras revistas de mulher nua.

Mas já era tarde... o bar de Josué fechava a sua última porta. As famílias recolhiam as cadeiras da calçada, apagavam os candeeiros, trancavam as portas e janelas, enquanto a praça vazia recebia os primeiros raios de luar. Cenário singelo ocupado por jovens seresteiros sem violão, sem cavaquinho, sem voz. As canções se espalhavam sob o céu de nossa cidade, quebrando o silêncio das ruas, pela boca do alto falante de uma radiola Philips portátil. 

Foto: Pça. Getúlio Vargas - Piritiba-Ba

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