A nossa geração e sua esquerda festiva tem uma dívida
musical com Chico
Buarque e Tom Jobim. Eram tempos difíceis e de contestação. As atitudes contra o regime
militar tinham que ser cada vez mais duras e implacáveis. Aos nossos ouvidos de
combatentes das passeatas e revolucionários das mesas de bar, a música de Geraldo Vandré tinha a cadência ideal para as nossas manifestações estudantis ou
populares. “Vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora,
não espera acontecer”.
Uma lição da tolerância que tivemos de aprender e
conviver algum tempo depois e que tanto cobrávamos, com a nossa veemência
esquerdista, aos “soldados armados, amados ou não”. Esta intolerância que não
soube reconhecer e aceitar a vitória de “Sabiá” de Tom e Chico sobre a “Prá não dizer que não falei de flores” de Vandré, vaiando a suas intérpretes, Cynara e Cibele, de forma estúpida e irracional.
Só o tempo foi capaz de guardar a beleza da música dos
mestres, que embora não tivesse a tola pretensão de ser a nossa “marselhesa”,
trazia no seu lirismo poético um canto de alento aos expatriados, aos nossos
irmãos no exílio: “vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar, foi
lá e é ainda lá, que eu hei de ouvir cantar, uma sabiá”. “Sabiá” era uma canção de exílio. Não foi o que entendemos, lamentavelmente,
nem tão pouco os milicos, preocupados que estavam com seus afazeres
inconstitucionais.
Foto: Ilustrativa
Foto: Ilustrativa
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