terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Sabiá

A nossa geração e sua esquerda festiva tem uma dívida musical com Chico Buarque e Tom Jobim. Eram tempos difíceis e de contestação. As atitudes contra o regime militar tinham que ser cada vez mais duras e implacáveis. Aos nossos ouvidos de combatentes das passeatas e revolucionários das mesas de bar, a música de Geraldo Vandré tinha a cadência ideal para as nossas manifestações estudantis ou populares. “Vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. 

Uma lição da tolerância que tivemos de aprender e conviver algum tempo depois e que tanto cobrávamos, com a nossa veemência esquerdista, aos “soldados armados, amados ou não”. Esta intolerância que não soube reconhecer e aceitar a vitória de “Sabiá” de Tom e Chico sobre a “Prá não dizer que não falei de flores” de Vandré, vaiando a suas intérpretes, Cynara e Cibele, de forma estúpida e irracional.

Só o tempo foi capaz de guardar a beleza da música dos mestres, que embora não tivesse a tola pretensão de ser a nossa “marselhesa”, trazia no seu lirismo poético um canto de alento aos expatriados, aos nossos irmãos no exílio: “vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar, foi lá e é ainda lá, que eu hei de ouvir cantar, uma sabiá”. “Sabiá” era uma canção de exílio. Não foi o que entendemos, lamentavelmente, nem tão pouco os milicos, preocupados que estavam com seus afazeres inconstitucionais. 

Foto: Ilustrativa

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