terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Tom do sertão

Assim que soube que a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó tinha gravado o CD Tom do Sertão com músicas de Tom Jobim e seus parceiros, em especial Vinicius de Moraes, tive a curiosidade de ouvir o resultado da investida destes sertanejos vitoriosos. A primeira faixa que escutei foi Modinha e fui arrebatado pelo belo arranjo de viola sertaneja e acordeom nesta canção que me parecia intocável desde a gravação de Elis no antológico disco Elis e Tom, mas o resultado é encantador. Mesmo estando desacostumado e pouco familiarizado com timbre desagradável de Chitãozinho, extremamente agudo, é tudo tão bem equacionando desde as orquestrações como as violas, violões, sanfonas, percussões que os senões ficam em certas escolhas que poderiam ter sido outras.

Se a intenção era procurar este lado regional, a natureza, a paisagem no repertório do grande maestro e nele encaixar os elementos sonoros que compõem o universo da dupla, é precisa a escolha de Águas de março, Correnteza, Caminho de Pedra, Chovendo na roseira, Estrada branca, o que não acontece em Chega de saudade, Eu não existo sem você, Caminhos cruzados, Sé por falta de adeus entre outros. Por outro, Se todos fossem iguais a você em ritmo de marcha rancho foi bem sacada a ideia e o resultado bonito. 

Para eu, você, nos dois, que estamos condicionados a estas canções em outras roupagens e outros interpretes pode até ser um choque cultural, ou mesmo preconceituoso, mas passados os primeiros momentos de estranheza a música soberana de Tom Jobim cumpre como sempre o seu papel, mesmo com estes novos interpretes. Se o produtor do disco, o músico e cantor Edgard Poças, o irmão de Céu, tivesse me consultado (brincadeira) poderia ter sugerido Estrada do sol, O boto, Sabiá etc. O dedilhar de viola em Eu sei que vou te amar bate como um sino dentro do peito. Bonito de ouvir. 

Foto: Chitãozinho e Xororó

Nenhum comentário:

Postar um comentário