Um dos Chefes
de Divisão do Departamento de Contabilidade
do banco do estado onde trabalhamos, por muitos anos, poderia, fora dos padrões
bancários, ser um militar linha dura, um executivo inacessível, um motorista de
ônibus em Salvador, um jogador de
futebol, para quem da clavícula prá cima, ainda era joelho, ou nenhuma das
opções anteriores. Mas, o nosso saudoso Walter
Quirino, um mal encarado afável, não era nada disso, pois fazia e dava
sentido crer na máxima que diz “por trás de uma cara feia, há sempre um bom
coração” ou simplesmente que “as aparências enganam”. Embora onde estivesse, procurasse
prevalecer um espírito burocrático de bancário convicto que era, em que as
normas e os costumes têm que ser obedecidos.
Era o que se depreendia de sua participação no
bloco Os Internacionais, quando esta
agremiação carnavalesca vinha para Avenida,
trazendo seus integrantes com indumentárias vistosas e reluzentes, botas cano
longo, plumas, paetês, perucas, chapelões entre outros adereços, numa frescura
inimaginável ao nosso Quirino, no
bloco sem a presença feminina entre os foliões, mas de muito macho. Logo cedo nas
imediações do “Quartel dos Aflitos” a
concentração do bloco, os “internacionais” já transitavam arrastando sua
fantasias para o desfile a partir das 10 horas de domingo, da Casa d’Itália até a Praça da Sé, em que o horário do
desfile não era cronometrado, mas era como se fosse.
Ao meio dia, onde o bloco estivesse, Quirino abandonava seus iguais e
voltava para sua casa na Daniel Lisboa,
em Brotas. Ali já estavam Tereza e a prole em volta de uma irrestível,
moqueca, mocotó, feijoada, dobradinha ou maniçoba de uma quituteira
irrespreensivel que ela era. Em um prato que se assemelhava a uma bacia, Quirino se servia e procurava a cama do
casal para ali espalhar os seus quase 100 quilos que logo passariam a 102 e
encarar o cardapío do dia. O suor dos dias quentes de fevereiro descia em
correnteza de seu rosto e escorria pelo peito, barriga e adjacências, mesmo com
os abanos de Tereza e filhos, todos
em volta do leito de um folião prostrado e, dentro de instantes pronto para o segundo tempo da
folia.
A cena, mesmo sabendo de ouvir contar, caberia num romance de Jorge Amado transposto para o cinema,
assim como Quincas Berro d’Água, Tenda
dos Milagres ou O amuleto de Ogum
sendo ele personagem dele mesmo, o colega e amigo saudoso, Walter Quirino.
Foto: Carnaval de Salvador - Anos 70
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