A ideia não é nova. O humor pode matar o
humorista. Ou, como tão bem sabia Henrique
de Souza Filho, o Henfil, o
humor pode matar o humor. Mais do que isso, obrigado a refazer constantemente a
natureza de seu personagem, o humorista dará ao ser fictício a vida que este
exigir. E o que o artista terá imaginado engraçado no início corre o risco de
jamais o ser. Neste pequeno grande livro, Como se faz humor político, o crítico musical Tárik de Souza, conversa com o amigo, quatro anos antes de sua
morte, aos 44 anos, em 1988.
Na Disneylândia corrosiva e nada lucrativa de Henfil, o cangaceiro Zeferino,
criado para ser herói, com o tempo ganharia o fim da fila. Seu segundo
personagem seria Bode Orelana, o
filósofo. O Cabôco Mamadô,
personagem que mais feriu o artista, segundo ele conta, e que no cemitério dos
mortos-vivos enterraria de Maluf a Elis Regina, um dia sepultaria o
próprio Henfil (e a si). Baixim talvez fosse ele próprio. E,
embora a Graúna tivesse nascido para
o comentário lateral, receberia asas de avião. “Hoje, a Graúna é o principal personagem, o Bode é o segundo e o Zeferino
virou aquilo que a Graúna ia ser. E
eu não controlo a Graúna. Eu
controlo o Zeferino”, anotou.
A criação de Ubaldo, o Paranoico, foi-lhe sugerida por Tárik, a quem Henfil atribuía
uma característica “de paranoia, de gozação”. Principalmente, o artista fala
sobre a necessidade de “pegar o bonde” da história para fazer o riso funcionar.
“A chave para fazer humor engajado é estar engajado. Não há chance de você
ficar na sua casa vendo os engajamentos lá fora e conseguir fazer algo. Esse
talvez seja o humor panfletário. Aquele que você faz de fora.”.
Texto: Carta Capital
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