terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Os filhos do Henfil


A ideia não é nova. O humor pode matar o humorista. Ou, como tão bem sabia Henrique de Souza Filho, o Henfil, o humor pode matar o humor. Mais do que isso, obrigado a refazer constantemente a natureza de seu personagem, o humorista dará ao ser fictício a vida que este exigir. E o que o artista terá imaginado engraçado no início corre o risco de jamais o ser. Neste pequeno grande livro, Como se faz humor político, o crítico musical Tárik de Souza, conversa com o amigo, quatro anos antes de sua morte, aos 44 anos, em 1988.
Na Disneylândia corrosiva e nada lucrativa de Henfil, o cangaceiro Zeferino, criado para ser herói, com o tempo ganharia o fim da fila. Seu segundo personagem seria Bode Orelana, o filósofo. O Cabôco Mamadô, personagem que mais feriu o artista, segundo ele conta, e que no cemitério dos mortos-vivos enterraria de Maluf a Elis Regina, um dia sepultaria o próprio Henfil (e a si). Baixim talvez fosse ele próprio. E, embora a Graúna tivesse nascido para o comentário lateral, receberia asas de avião. “Hoje, a Graúna é o principal personagem, o Bode é o segundo e o Zeferino virou aquilo que a Graúna ia ser. E eu não controlo a Graúna. Eu controlo o Zeferino”, anotou.
A criação de Ubaldo, o Paranoico, foi-lhe sugerida por Tárik, a quem Henfil atribuía uma característica “de paranoia, de gozação”. Principalmente, o artista fala sobre a necessidade de “pegar o bonde” da história para fazer o riso funcionar. “A chave para fazer humor engajado é estar engajado. Não há chance de você ficar na sua casa vendo os engajamentos lá fora e conseguir fazer algo. Esse talvez seja o humor panfletário. Aquele que você faz de fora.”.

Texto: Carta Capital

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