A viagem de ônibus ajudou a desanuviar o
desencanto que insistia em me entristecer. Alguns companheiros de viagem
contribuíram para este clima. Em Mundo
Novo entraram dois cantadores de chula e embolada, felizmente sem os pandeiros
e violas, que acabaram transformando, assim mesmo, o interior do ônibus num
picadeiro de circo (no bom sentido).
Os caras estavam com a língua afiada e a
memória em disparada por doses e doses de 51 (imagino), pois os casos,
relatados em volume máximo, iam saindo aos borbotões. Alguns bastantes
engraçados, e mesmo os que não eram passavam a ser pela forma descontraída,
ingênua, por isso mesmo muito simpática, com que eles contavam, agora não mais
aos amigos que eles encontraram no ônibus, mas a todos nós, passageiros, que passamos
a formar a grande a plateia.
Um deles contou que foi a um samba na fazenda
de “Ozébio de Angelina”, em Piritiba. Chegou, pegou o pandeiro e
começou a tocar e cantar. Nisso botou os olhos numa morena que já estava com os
olhos, a boca e todo o resto de sedução pra cima dele, há muito tempo. Assim
que outro tocador se apresentou pra cantar, ele entregou o pandeiro e foi tirar
a morena pra dançar. Quando deu por si já estava dançando com a morena na
cozinha de “Ozébio”, junto à porta
dos fundos que dá para o terreiro. Pra cair no terreiro foi só um passo.
Aí começou a se agarrar com a morena, encostado
num cercado que ele não conseguiu identificar do que se tratava, mesmo com a
claridade da noite de lua. E foi tanta agarração que a cerca não aguentou e, os
dois acabaram estatelados dentro do cercado. O cercado era um poleiro cheio de
galinhas, pintos e alguns galos. Em pânico, acordadas e assustadas, com a
presença dos dois, as galinhas fizeram um grande alvoroço, como só as galinhas
sabem fazer, por mais que ele estalasse os dedos pedindo silêncio.
O dono da fazenda, pensando que se tratasse de
uma raposa ou de algum ladrão de suas galinhas, saiu com a espingarda na mão
dando tiros pra todos os lados, enquanto ele, o cantador enamorado, com as
calças na mão, gritava: “Ozébio, sou eu;
sou eu, Ozébio,” “Dió de Lindofo”.
Foto: Ilustrativa
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